sexta-feira, março 18, 2005

O Grito



O célebre quadro "O Grito" de Edvard Munch, cujo paradeiro ainda é desconhecido, continua a suscitar inúmeras polémicas entre os peritos de arte.
Este quadro é frequentemente apresentado como um ícone da angústia existencial. Uma das grandes discussões é se a figura que lá aparece está a gritar ou a ouvir um grito.
A maioria daqueles que conhecem o quadro julga que a figura está a gritar. No entanto, o próprio Munch na referência escrita que deixou sobre a obra, falava num grito da natureza. Mesmo com esta referência, alguns acham que a figura é a personificação deste grito.
Aqueles que conhecem o local, em Oslo, que serviu de fundo à pintura, falam de um matadouro próximo e até de um hospital psiquiátrico. Os gritos poderiam vir daí, da agonia dos animais perante a morte ou dos pacientes do hospital.
Alguns destacam o facto de ele ter conseguido pintar um som. Traduzem este como a ansiedade de uma pessoa no mundo actual.
É evidente que todas estas interpretações resultam da forma como cada um ajuíza aquilo que vê. A arte é isso mesmo, provoca sensações que diferem de pessoa para pessoa conforme a sensibilidade de cada um.
Afinal, se a figura está a gritar ou a ouvir um grito, pouco importa...

terça-feira, março 15, 2005

Castelo de Vide

Recentemente visitei Castelo de Vide.
Sem dúvida, esta é uma das mais belas vilas do nosso país.
As suas origens medievais são ainda bem visíveis no impressionante conjunto de portas ogivais e a sua importância ao longo dos séculos traduz-se no acervo de igrejas, casas nobres, fontes e judiaria, disperso pelas ruas de traçado íngreme e sinuoso.
Esta é daquelas vilas que, se bem conservada e explorada turisticamente, poderia atrair inúmeros visitantes e ombrear, nos destinos turísticos, com Óbidos.
Infelizmente, contrariamente a Óbidos, Castelo de Vide só quase por acidente é que se visita e, mais grave ainda, o seu património está a degradar-se de forma visível e incompreensível.

Não se compreende que uma vila com estas potencialidades praticamente não possua lojas de artesanato; cafés, que não façam lembrar os vulgares cafés de aldeia que proliferam nas freguesias do nosso país, e até mesmo os restaurantes se contam pelos dedos de uma mão.
É certo que a sobre-exploração turística é indesejável, mas aqui é o deserto absoluto, a desolação inexplicável.
O património abandonado, igrejas esventradas a aguardar ruína e casas medievais de que só resta a fachada, merecia melhor sorte. Não se compreende como estas casas não são recuperadas para o comércio (lojas de artesanato ou pequenos bares, como em Óbidos e até Marvão, que felizmente tem melhor sorte).
Por outro lado, o Castelo está com obras de vulto, onde o cimento é bem mais visível do que seria desejável...

segunda-feira, março 14, 2005

Caravaggio


Aqui há dias chamei a atenção para a exposição de Dürer em Madrid. Contudo, neste momento decorre uma outra grande exposição, num outro grande museu - National Gallery, em Londres. Aqui é Caravaggio, o mestre por excelência da luz e do jogo claro/escuro.
Os trabalhos expostos são do período final da sua carreira, nos inícios do séc. XVII. O período mais rico e interessante, já muito longe da relativa frivolidade que caracterizava as suas primeiras obras.
Neste período, em que Caravaggio teve de fugir para Roma, por ter morto um homem num duelo, a sua obra é muito mais dramática e introspectiva.
Para os felizardos que possam lá ir é um evento absolutamente imperdível.

domingo, março 13, 2005

Vilarinho da Furna




Bombardeado pelas imagens televisivas, não resisti em juntar-me à romaria rumo à aldeia de Vilarinho da Furna, submersa em 1972 pela construção de uma barragem e que periodicamente (em anos de seca?) vê novamente a luz, com o rebaixar do nível das águas.
Depois de atravessar a barragem, fomos confrontados com uma portagem de 2€ por carro ou 0,50€ por pessoa, através daqueles que se intitulavam ex-moradores (proprietários) da extinta aldeia. Paga a portagem, seguimos viagem pelo caminho que parecia transitável a uma viatura que estava longe de ser todo-o-terreno.
Passada a primeira curva, começamos a vislumbrar o logro em que caímos. O caminho tornou-se estreitíssimo, de terra batida, esburacado e a fazer recear que a viagem não teria retorno. O pesadelo agravou-se com a terrível descoberta de que a volta se faria exactamente pelo mesmo caminho e que o trânsito se efectuaria simultaneamente nos dois sentidos, sem que alguém orientasse o fluxo ou as prioridades.
O inevitável acontecia, o trânsito bloqueava quando a estrada não permitia dois carros em paralelo. Obrigava os condutores a ter calafrios ao ver abeirar-se o precipício das águas, quando o cruzamento era inevitável; a passar a milímetros dos veículos que circulam no sentido contrário, porque mais vale raspar que cair.
Enfim, a todos que lerem esta crónica e que tenham vontade de lá ir, deixem o carro próximo da barragem e desloquem-se a pé. São 2 Km de percurso, que vale a pena percorrer.

Chegados ao destino, a visão é impressionante. A aldeia conserva ainda a sua dignidade. As casas em pedra, dispostas em aparelho ciclópico não muito tosco, a mostrar que esta não era uma aldeia qualquer. Sente-se nobreza naquelas ruínas.

sábado, março 12, 2005

Garri Kasparov





O que leva Kasparov a abandonar o xadrez profissional? As razões aduzidas (desentendimentos com a FIDE; vontade de dedicar-se à política) parecem-me coisa pouca. Kasparov é talvez o maior génio de sempre do tabuleiro. Os génios não se deveriam poder dar ao luxo de deixar de ser génios, porque simplesmente o são.
Dificilmente conceberíamos que Leonardo da Vinci abandonasse voluntariamente a pintura, no auge do seu poder criador, ou Miguel Ângelo, ou Mozart, ou todos aqueles que adquiriram o estatuto de imortais na área em que se distinguiram.
No xadrez já aconteceu algo similar com o norte-americano Fischer, mas esse, a par da genialidade, sofre de notórios distúrbios psiquiátricos...

sexta-feira, março 11, 2005

Albrecht Dürer



Dürer;
Auto-Retrato aos 13 anos
1484


Dürer;
Auto-Retrato, 1498


Madrid, é hoje, neste dia 11 de Março, uma cidade sobre a qual pesam tristes recordações.
Se, no entanto, se deslocar a esta cidade, até ao próximo dia 29 de Maio, não poderá deixar de fazer uma visita ao Museu do Prado e ver a exposição dedicada ao extraordinário pintor alemão Albrecht Dürer.
A exposição conta com mais de 50 obras do artista que foi um verdadeiro Homem do Renascimento. Minucioso, reflexivo, versátil e abrangente, a sua obra foi admirada pelos seus contemporâneos, tanto no Norte como no Sul.

terça-feira, março 08, 2005

Angústia, solidão e medo em alta


Edvard Munch, "Vestido Azul"

Neste fim-de-semana, foram roubados mais três quadros do pintor norueguês Edvard Munch. Depois do incrível roubo, no Museu Munch, do ícone da angústia existencial - "O Grito" - e da "Madona", no ano passado, e dos quais aparentemente ainda nada se sabe, mais uma vez os larápios de arte escolheram obras deste talentoso pintor que rapidamente ultrapassou as fronteiras do seu país e teve uma influência vital no desenvolvimento do expressionismo alemão dos anos 20.
Desta vez, as obras escolhidas - "Vestido Azul", de 1915 e duas litografias - foram furtadas do Hotel Refnes Gods, na cidade de Moss, a sul de Oslo.
Entretanto, a polícia de Oslo teve agora mais sucesso e já conseguiu recuperar os trabalhos. Parece que os autores do furto foram jovens na casa dos vinte anos. Ainda não se sabe se há qualquer ligação entre este caso e o roubo do museu.

segunda-feira, março 07, 2005

Debbie Harry 'Koo Koo'



Artist: H.R. Giger

Quem é que sendo adolescente nos inícios dos anos 80 não ficou impressionado com a capa deste 'album' (como na altura se dizia)?
Os Blondie, com Debbie Harry, eram 'comerciais' (outro termo que se usava na época). Mas esta capa, da autoria de Giger, afixada nas lojas de discos, prendia-nos o olhar.

quinta-feira, março 03, 2005

Altamira


As representações animais, numerosas durante o período aurinhacense e nas épocas ulteriores, são, contrariamente às figuras humanas, mais simbólicas, dum realismo surpreendente. Esta arte vibrante é caracterizada por uma concepção "visual" e dinâmica do animal.
Escondidas nas entranhas da Terra, fora do alcance dos intrusos, estas imagens obedeceram a um propósito muito mais sério que o simples gosto de decorar. Provavelmente, foram executadas para servir um rito mágico destinado a assegurar êxito na caça.



O animal tombou no chão, moribundo, as patas já não podem com o corpo, mas baixa a cabeça para tentar defender-se das azagaias que lhe arremessam.
É uma imagem viva e realista, assombrosa pela agudeza da observação, pelo traçado firme e vigoroso, pelos matizes subtis que dão volume e relevo às formas ou, talvez pela força e dignidade da fera agonizante.

in Janson, H. W., História da Arte, Fundação Calouste Gulbenkian