sexta-feira, novembro 26, 2004

Tigran Petrosian (1929 - 1984)


A FIDE decretou oficialmente o ano de 2004 como o ano de Tigran Petrosian.
Fiquei sensibilizado com este gesto. Porque, durante muito tempo, a imagem deste campeão (por muitos considerado um dos mais fracos de sempre) era muito pouco abonatória e, quanto a mim, extremamente injusta.
Dentro dos meus modestos recursos, não deixo de intimamente prestar homenagem a esta grande figura sempre que tento descobrir os planos do meu adversário e neutralizá-los antes que produzam estragos. Petrosian fazia isto com tanta naturalidade que tornava a maioria das partidas que disputava extremamente "aborrecidas". Frustrava as ambições atacantes dos adversários, como que antecipando tudo o que poderia desequilibrar o jogo. Com isto, Petrosian ganhou fama de invencibilidade e, na realidade, foi o único campeão que conseguiu passar a fase dos Interzonais e dos candidatos sem perder uma única partida. Feito nunca mais conseguido, nem pelos génios Fischer e Kasparov.
Petrosian ganhava poucas partidas, mas perdia ainda muito menos.
Arrancou o título de rei da "profilaxia" ao outro `monumento' desta escola e célebre teórico, Aaron Nimzovitch. Conquistou o título mundial de xadrez a um dos mais emblemáticos xadrezistas de sempre - Mikhail Botvinnik - e, surpreendentemente, manteve-o no primeiro confronto que teve com Boris Spassky. Este último, só conseguiria o título em 1969 pela margem estreita de 12,5 / 10,5.
Actualmente, já se faz justiça a este grande jogador e não há escola que se preze que não estude as suas partidas.
É um autêntico anti-herói. Como tal, pouco acarinhado, porque nada de espaventoso produziu. É, no entanto, desta massa que saem os grandes ensinamentos, que imperceptivelmente influenciam a nossa conduta.

sexta-feira, novembro 05, 2004

Calcular e analisar

Ainda no livro “Xeque-Mate no Estoril – A morte de Alekhine”, Dagoberto Markl transcreve um artigo (de má memória, porque anti-semita) do próprio Alekhine, em que este faz referência à célebre passagem, sobre o xadrez, de Edgar Allan Poe, no conto “Os Crimes da Rua Morgue”:

“Calcular não é o mesmo que analisar. Um xadrezista, por exemplo, faz o primeiro sem se esforçar pelo segundo. Donde acontece que o jogo do xadrez, no que respeita aos seus efeitos sobre o carácter mental, é grandemente mal compreendido. Não estou a escrever um tratado, mas aproveito a oportunidade para asseverar que os mais elevados poderes do intelecto reflectivo são mais decidida e utilmente desenvolvidos pelo despretensioso jogo das damas do que por toda a elaborada frivolidade do xadrez. Neste último, em que as peças têm movimentos diferentes e bizarros, com vários e variáveis valores, confunde-se o complicado (um erro não invulgar) com o profundo. A atenção desempenha aqui um papel importante. Se, por um instante, enfraquece, cometeu-se um descuido, resultando daí um dano ou uma derrota... em nove de cada dez casos é o jogador com maior poder de concentração, e não o mais perspicaz, que ganha.”

Isto parece dar razão aqueles que defendem que a dedicação ao xadrez não serve para mais nada que não seja para jogar melhor xadrez...
Quando eu, jogador de 4ª ou 5ª categoria, perco a grande maioria dos jogos por erros de atenção, inclino-me a dar razão ao Edgar Allan Poe :-)