domingo, outubro 17, 2010

Sesnando

Moçárabe governador de Coimbra desde a conquista da cidade (1064) até à sua morte (cerca de 1091).
Segundo o relato do monge de Silos, Sesnando foi feito prisioneiro ainda novo (1026) e levado para Sevilha, onde se distinguiu pelos seus talentos e serviços feitos ao serviço do chefe muçulmano Ibn-Abed. Como recompensa tornou-se o seu vizir (wasir). De acordo com Herculano, esta história é duvidosa e servirá para escamotear o seu procedimento para com o príncipe muçulmano e a sua duvidosa fé cristã, já que seria muito improvável a passagem de escravo a sumo vizir num tão curto espaço de tempo.
Apesar da sua posição privilegiada abandonou Sevilha, talvez devido a alguma ofensa ou pelo sentido de oportunidade ao pressagiar que o avanço das armas cristãs se tornava inexorável.
A sua biografia pode ser em parte reconstituída por informações dispersas por vários documentos de Coimbra. Todavia, segundo José Mattoso, as investigações de Gérald Pradalié demonstraram a falsidade ou interpolações das fontes fornecidas por estes documentos. O contexto polémico em que foram fabricados, pelos anos 1115 -1116, na última fase da controvérsia entre adeptos do ritual hispânico ou moçárabe e partidários do ritual romano explica a exaltação do que foi o mais firme defensor dos Moçárabes. Mesmo assim, podem aproveitar-se estes relatos como testemunho da imagem que do conde queriam dar os seus partidários já depois da sua morte.


(Fonte do mapa: História de Portugal, Vol. I, Dir. José Mattoso)

Após o abandono de Sevilha, colocou-se ao serviço de Fernando Magno para conquistar Coimbra, talvez movido pelo apego à sua terra natal, já que teria nascido em Tentúgal. Após seis meses de cerco, Coimbra foi tomada a 9 de Julho de 1064, tendo sido Sesnando nomeado governador da cidade e de todo o território compreendido entre o Douro e a fronteira muçulmana, e desde Lamego e Viseu até ao Atlântico. Denominado conde, nunca abandonou o antigo título de Alvazil que trazia da sua estada em Sevilha. A sua acção caracterizou-se pela protecção aos Moçárabes e por um fortalecimento das posições cristãs naquele território, promovendo o repovoamento e a construção de fortalezas, edifícios e igrejas.
Após a morte de Fernando Magno, o território português e a Galiza coube a Garcia. Relativamente a este período há um silêncio das fontes diplomáticas e narrativas, o que poderá indiciar alguma hostilidade entre Sesnando e o novo monarca, já que era casado com Loba Nunes, filha do conde Nuno Mendes que morreu em luta contra o rei Garcia. O apoio de Sesnando a Afonso VI contra Garcia também parece confirmar esta tese, apesar de aparentemente não ter sido afectado com a morte do sogro, pois veio a possuir bens confiscados ao seu sogro pelo rei Garcia.
Com Afonso VI de Leão, tornou-se um verdadeiro especialista das negociações com os reinos taifas para lhes exigir páreas em ouro como pagamento da protecção ou neutralidade do rei de Leão. Após a conquista de Toledo, foi nomeado governador desta cidade procurando executar aí uma política de tolerância para com os muçulmanos que tinham permanecido na cidade. Contudo, este espírito perdurou por pouco tempo, já que o bispo Bernardo de Sédirac conseguiu o seu afastamento e impor o rito romano na cidade, tendo mesmo expulsado os muçulmanos do culto na mesquita da cidade.
Regressado a Coimbra, suportou as violentas investidas almorávidas de 1086, que o levaram a fazer um testamento por recear não sair com vida dos confrontos. Em Coimbra continuou a lutar contra a imposição do rito romano, procurando que sucedesse Martinho Simões ao bispo Paterno. O concílio de Husillos (1088), dominado por Bernardo de Sédirac, rejeitou esta eleição e escolheu Crescónio, um partidário do ritual romano.
Porém, só após a sua morte, em 25 de Agosto de 1091, o bispo Crescónio foi sagrado.
O seu túmulo encontra-se na Sé de Coimbra.

Fontes:
  • Dicionário de História de Portugal, Dir. Joel Serrão
  • Dicionário Enciclopédico de História de Portugal
  • História de Portugal, Alexandre Herculano
  • História de Portugal, Dir. José Mattoso

Sem comentários: