Tal como Almeida, já não visitava Castelo Rodrigo há mais de uma dezena de anos. Depois da desilusão sofrida em Almeida, esperavamos o pior à medida que nos aproximavamos de Castelo Rodrigo. Afinal, da última vez que tinha visitado, o abandono era evidente e pouco deveria faltar para que toda a velha aldeia histórica ombreasse com a ruína desprezada do Palácio de Cristóvão de Moura.Aproximamo-nos, já ao fim da tarde, e a primeira visão não poderia ser mais magnífica...

Um rebanho e, ao fundo, brilhava o povoado como que numa aura de encantamento.
Chegados ao destino, notavam-se alguns cuidados: novo pavimento, casas recuperadas, alguma oferta de turismo de habitação e lojas cuidadas de artesanato e artigos regionais. Aqui, os apoios ao abrigo do FEDER parece que não caíram em saco roto e, pelo menos por agora, estão a contribuir para a valorização deste património.Até a velha chaga do palácio em ruínas, que estava ao sabor do vandalismo de quem por ali passava, já ganhou outra dignidade. Agora, preservou-se o que restava. O recinto é fechado e vigiado.

Quando chegou a noite, provamos as delícias gastronómicas da região num acolhedor recanto designado O Cantinho dos Avós. Um pequeno restaurante que ilustra mais um aproveitamento de uma casa, que de outro modo estaria abandonada, como tantas outras. O espaço é pequeno mas extremamente hospitaleiro. No Inverno, poderão desfrutar do calor da lareira e, enquanto esperam pelo repasto, poderão ver as fotos expostas, ou folhear revistas de arquitectura!?... Na sobremesa, não se esqueçam de provar os crepes, especialmente com doce de Romã...
Enfim, a passagem pelo local resultou numa inesperada magia que contrariou as negras expectativas.
São poucos os casos de estreia tão prometedores como o que aconteceu no ano 2000 com o CD Felt Mountain, dos Goldfrapp (Alicia Goldfrapp e Will Gregory). A música, como que soprada por uma brisa, que nos embalava e deleitava, era tão extraordinária que o facto de ser uma estreia augurava, no futuro,grandes momentos de prazer. 

A vila e a sua fortaleza lá continuam, bem conservadas. Todavia, senti um pouco o que já descrevi na minha visita a Castelo de Vide, no ano anterior. Pasmo ver uma terra com tamanhas potencialidades turísticas tão desaproveitada e com tão pouco dinamismo e investimento no seu património. Por duas vezes que a visitei, em dias distintos, acabei por inevitavelmente parar num dos poucos (senão o único) bar aberto. Este, estava repleto de estudantes que, em período de férias, não tinham outro poiso para conviver.
A sensação é de desleixo e desinvestimento. Parece que a inércia está a deixar a pequena localidade envelhecer como os seus canhões. Triste sorte para uma maravilhosa povoação que, com outra vontade mais enérgica, poderia candidatar-se a património mundial.