domingo, junho 26, 2005
Shostakovich e Alekhine
A propósito do seu gosto pelo xadrez, o célebre músico russo contava a seguinte anedota, recolhida da biografia do compositor russo publicada pelo polaco Krzystof Meyer.
"Quando vivia em Leninegrado, nos primeiros anos após a revolução, não perdia um filme. Gostava apaixonadamente de cinema. Incluso trabalhei como pianista num cinema e tocava para vários filmes mudos. Um dia fui ao cinema. Na entrada, os espectadores folheavam os jornais aí expostos. Aparece então um homem de aspecto discreto, vestido sobriamente. Lança um olhar melancólico sobre uma das mesas, em que uma partida de xadrez havia ficado descuidadamente interrompida. Estava examinando atentamente a posição das figuras; exclamei então:
- E se jogássemos uma partida?
O homem observou-me, sorriu com benévola indulgência, e aceitou.
A rapidez das minhas jogadas deixaram o meu adversário perplexo; indubitavelmente não sabia jogar como um sprinter, como eu. Reflectiu alguns instantes e, antes que me desse conta, o meu rei já se encontrava numa posição catastrófica. Nervosamente procurei a salvação, sentindo o olhar penetrante do desconhecido sobre mim. Acabou por dar-me xeque-mate com incrível facilidade. Nunca havia perdido de tal forma.
Mesmo assim, algo no meu jogo lhe chamou a atenção, pois perguntou-me:
- Jogas xadrez há muito tempo?
- Três anos respondi.
Dirigiu-me mais uma pergunta:
-Conheces-me?
- Não.
Soaram as campainhas, o filme ia começar.
- Nesse caso, apresento-me: Alexander Alekhine... E entrou na sala.
Durante a projecção, não olhava o écran, fixava o meu olhar em Alekhine. A partir daquele momento converti-me num ardente seguidor de todas as suas partidas. Quando em 1927 bateu o campeão mundial, o célebre Capablanca, na Argentina, a minha alegria não foi inferior à do próprio Alekhine.
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