Ainda no livro “Xeque-Mate no Estoril – A morte de Alekhine”, Dagoberto Markl transcreve um artigo (de má memória, porque anti-semita) do próprio Alekhine, em que este faz referência à célebre passagem, sobre o xadrez, de Edgar Allan Poe, no conto “Os Crimes da Rua Morgue”:
“Calcular não é o mesmo que analisar. Um xadrezista, por exemplo, faz o primeiro sem se esforçar pelo segundo. Donde acontece que o jogo do xadrez, no que respeita aos seus efeitos sobre o carácter mental, é grandemente mal compreendido. Não estou a escrever um tratado, mas aproveito a oportunidade para asseverar que os mais elevados poderes do intelecto reflectivo são mais decidida e utilmente desenvolvidos pelo despretensioso jogo das damas do que por toda a elaborada frivolidade do xadrez. Neste último, em que as peças têm movimentos diferentes e bizarros, com vários e variáveis valores, confunde-se o complicado (um erro não invulgar) com o profundo. A atenção desempenha aqui um papel importante. Se, por um instante, enfraquece, cometeu-se um descuido, resultando daí um dano ou uma derrota... em nove de cada dez casos é o jogador com maior poder de concentração, e não o mais perspicaz, que ganha.”
Isto parece dar razão aqueles que defendem que a dedicação ao xadrez não serve para mais nada que não seja para jogar melhor xadrez...
Quando eu, jogador de 4ª ou 5ª categoria, perco a grande maioria dos jogos por erros de atenção, inclino-me a dar razão ao Edgar Allan Poe :-)
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